hi5 - Diário de Sandra
Pânico no Rio de Janeiro
Por CRISTIANO CATARIN
"Tropas do exército brasileiro permanecem nos morros cariocas; bala perdida mata um estudante durante o período letivo num colégio público do Rio de Janeiro; comando vermelho manipula crime organizado, inclusive de dentro das penitenciárias do Estado do Rio; turistas ingleses são surpreendidos e assaltados por bandidos no Leblon, região nobre do Rio de Janeiro; 'arrastão' deixa dezenas de pessoas desesperadas na praia de Copacabana, litoral carioca".
Infelizmente manchetes como estas são costumeiramente divulgadas pelos noticiários televisivos e também por grande parte da imprensa escrita. Evidente que o medo e a violência não assombram somente as cidades do Rio de Janeiro. Por outro lado, o fato é que o Rio convive com a sensação de pavor desde antes de sua fundação. Algumas páginas da história nos revelam uma triste herança deixada pelas aventuras francesas comandadas por Nicolau Durand de Villegaignon no século XVI, duma região que ainda iria receber o nome de Rio de janeiro.
As invasões realizadas pelos franceses aconteceram a partir da segunda metade do século XVI, mas a idéia de estabelecer uma colônia na Baía de Guanabara fazia parte de um projeto antigo destes europeus. No interior da baía, numa ilha, os invasores construíram o Forte Coligny. No entanto, a ocupação dos invasores duraria pouco tempo, até que em 1565 os portugueses, sob o comando do então governador-geral do Brasil, Mem de Sá, e posteriormente seu sobrinho, Estácio de Sá, expulsaram definitivamente a colônia francesa. O sobrinho do governador aproveitou a oportunidade do restabelecimento de domínio dos portugueses para fundar a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, garantindo assim, a posse do território.
O sentimento de insegurança no Rio Janeiro avançou por todo período colonial. Havia o temor do perigo externo: medo das doenças trazidas pelo tráfico de escravos (transportados da África pelos navios negreiros sem a menor condição de higiene e saúde), medo das invasões estrangeiras, medo também de serem atacados pelos nativos.
Essa angústia presente na população carioca proporcionava reações de pavor mesmo em situações que não representavam riscos, como uma simples aproximação de embarcações desconhecidas à costa da baía. Certa vez, em 1695, um navio francês aproximou-se da Guanabara solicitando as autoridades do Rio de Janeiro aportar na região com objetivo de reparar algumas avarias no navio e também para o reabastecimento de víveres dos marujos. Isso foi o suficiente para que muitos deixassem suas casas da cidade, fugindo para regiões interioranas levando consigo mulheres, filhos e bens pessoais. O governador do Rio de Janeiro acabou ouvindo muitos boatos pela cidade referentes a histórias mirabolantes envolvendo os franceses. A boataria tomou conta das ruas causando pânico e insegurança por toda parte. Muitos tentaram agredir os tripulantes da embarcação francesa aportada no litoral carioca.
A partir de então, um fato inusitado. O governador decretou a proibição da circulação de todo e qualquer tipo de boato na cidade sob pena de morte aos boateiros acusados e condenados. Veja até que ponto chegou à sensação de medo no Rio de Janeiro colonial.
Anos mais tarde, os franceses planejaram novas investidas contra o Rio de Janeiro, em 1711 eles derrotaram os portugueses. Durante este episódio, grande parte da população urbana fugiu para outras regiões. Inclusive as autoridades nada puderam fazer além do próprio rendimento aos ataques. A principal temeridade do governo ao final do século XVIII ficava por conta das ideologias da Revolução Francesa com respeito à igualdade e liberdade. Havia ainda a possibilidade dos moradores cariocas apoiarem os estrangeiros, visto que o clima de insatisfação pairava por toda cidade. Tomada pelo medo e pela revolta, a população ameaçava desobedecer à subordinação local e o próprio reinado português.
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